Muitos moçambicanos que se casam hoje nasceram nos famosos anos da crise ou durante o fim da guerra civil e assinatura do Acordo de Paz em 1992, entretanto poucos se lembram de como se vivia nessa época de penosas dificuldades e escassez de tudo. De certo que muitos ouvimos as histórias da fase do repolho e outras semelhantes, mas e sobre os casamentos? Já imaginou como era casar numa época onde a comida era limitada por pessoa e coisas como um simples buffet ou brindes para os convidados eram consideradas luxo? Neste artigo vamos levá-la numa viagem pelo tempo para que tenha uma pequena ideia de como era casar na década de 80.

Os convidados

Hoje em dia, um número médio de convidados em casamentos em Moçambique é 300. Há 30 anos atrás, esse número seria considerado absurdo e um casamento com 50 pessoas era considerado até acima da média. Era normal casais decidirem fazer uma cerimónia pequena, apenas com os padrinhos e poucos familiares ou amigos. Também era comum os noivos “participarem o casamento” ao público, sendo que isso não significava que estavam necessariamente a convidá-lo para a festa, mas que era autorizado a congratular os noivos e a assistir as cerimónias religiosa e/ou civil.

Os noivos

E como era se sentir princesa há 30 anos atrás? Não havia vestidos importados a não ser da vizinha África do Sul, por isso as opções eram as modistas. Os buquês também eram bem mais simples, muitas vezes montados em casa. Mas apesar das dificuldades no acesso à certos tipos de tecidos, a criatividade não deixava as noivas se sentirem menos belas. Para os noivos também era mais simplificado, desde que combinassem a cor do fato com a cor dos sapatos, estava tudo certo.

Recém-casados, 1989, Maputo, Moçambique

Palácio dos Casamentos

Apesar de tantas mudanças, o palácio dos casamentos é uma das coisas que permaneceu igual. Este edifício característico pela sua arquitectura de origem grego-romana, foi construída em 1931-1934 (antigo centro cultural da Igreja Ortodoxa Grega) e celebra casamentos na República de Moçambique desde os anos 80. É um património cultural do estado e em 2012 já tinha celebrado mais de 2500 casamentos. Teve desde então algumas restaurações, mas essencialmente permaneceu o mesmo edifício branco que oficializa vários casamentos todos os fins de semana, na cidade de Maputo.

Para a história completa do Palácio dos Casamentos visite: House of Maputo

Palácio dos casamentos, Maputo, Moçambique

A festa

A festa era pequena, mas bem mais íntima. Só quem realmente importava para os noivos era convidado e muitas vezes o espaço usado era o próprio quintal de casa. Familiares distantes, colegas de trabalho ou chefes, vizinhos não eram muitas vezes incluídos na lista, ao contrário do que se pratica hoje. Pelo facto de, na época, as compras serem limitadas por indivíduo, para comprar em grandes quantidades era necessário algum tipo de autorização especial ou que vários membros da família fossem às famosas "bichas" levantar a sua parte.
Quem cozinhava era quase sempre a própria família. Panelas de arroz e caril, frango assado e batata frita eram os pratos que faziam parte do buffet e satisfaziam os convidados.
Uma aparelhagem e um “Dj“, que muitas vezes não passava de alguém que se encarregava de escolher e colocar as cassetes a tocar, eram suficientes para animar o ambiente e levar a festa pela noite adentro.
Com bem menos glamour, nessa época não havia fogos de artíficio durante o corte do bolo e abertura de sala ou actuações dispendiosas de artistas renomados. Mas nada disso impediu que uniões fossem formadas e que estas fossem duradouras. Muitas delas caminham hoje para as bodas de ouro.

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